And the Oscar goes to...




Só porque teu alto nível de convencimento te induz à deduções distorcidamente conclusivas, isto não significa que elas estejam de acordo com a verdade. Aliás, se existisse uma escala valorativa em grau de “se-achismo”, tua pontuação estaria elevada a ponto de te garantir uma estatueta na cerimônia de pessoa mais convencida do ano.

Resolvi que vou desfazer essa tua conclusão errônea de que estou apaixonada por ti. E decidi escrever antes que tu me exijas argumentos de corpo presente. Isso porque se eu te falar pessoalmente, no mínimo de tempo que o Sistema Nervoso Central do meu encéfalo leva para fazer com que meus lábios, pulmões e cordas vocais trabalhem conjuntamente, traduzindo meu pensamento pela emissão de sons em forma de linguagem, tu dirás que eu demorei na resposta. E caso eu não ache de imediato uma ou outra palavra, tu dirás que eu gaguejei, o que (para ti) confirmará esta tua afirmação infundada!

Pois bem. Não é porque de uma hora para outra eu descobri que existem mais de 63 tonalidades diferentes de cores no trajeto São Leopoldo/Novo Hamburgo, e tenha me surpreendido comigo mesma contando cores de caminhos que, em geral, eu nunca tinha prestado atenção, que eu esteja apaixonada por ti. Isso pode ser apenas tédio, sabia?

Não é porque toda santa letra de canção, me faz lembrar de alguma parte de ti em sua estrofe, pausa, vírgula, verso ou rima. Nem porque toda vez que eu tenha cantado, pensado em escrever ou gravar alguma canção nos últimos tempos, onde teu nome insista em aparecer sugestivamente como título que eu esteja apaixonada por ti. Eu posso apenas ter apreço por música brega. Escutou?

Se eu fico te perguntando o que tu tem a cada silêncio ou tentando interpretar qual será a decodificação de um suposto sentido oculto nas palavras “alô”, “olá”, “oi” ou “sou eu”, que tu insistes em emitir de forma variada cada vez ao telefone (porque raios tu não opta por uma só maneira de cumprimento de uma vez por todas?), que eu esteja apaixonada por ti. Eu posso apenas ter TOC ou ser paranóide! Capiche?

Muito menos é porque o teu toque, a sensação da tua pele de encontro com a minha, ou teu cheiro, ou teu sorriso, ou teu abraço, ou teu beijo, ou qualquer coisa que tu faças que me passem pelos sentidos, seja me entorpecendo ou me aguçando os mesmos, me fazendo entender finalmente o porque toda alma precisa ter um corpo, que eu esteja apaixonada por ti, eu posso apenas ser uma pessoa fixada na busca pelo conhecimento e centrada demais na questão filosófica clássica mente-corpo. Pegou?

Também não é porque tu virou uma espécie de parâmetro masculino, que dividiu o universo do outro gênero entre os menos que tu, os perto de ti, e os lamentavelmente abaixo de ti. Isso definitivamente, não tem nada a ver com estar apaixonada. E nem é porque tu estas acima do bem e do mal, isso nem é grande mérito, se tu parar pra pensar no tanto que tem de babaca no mundo.

E indo além, também não é porque tua ausência me faz sentir um vazio físico, como se fosse fome, só que mais pra cima e mais pra esquerda, nem porque tua presença me faz esquecer que existe fome no planeta, ou qualquer outra coisa que não sejam teus olhos, tua boca, tua respiração. Muito menos é pela forma como tu me desfaz, me abre, me arranca desse inferno gelado que eu me enfio as vezes com tanta intensidade que me derrete, que eu esteja apaixonada por ti! Ta me ouvindo?

Eu poderia seguir uma lista argumentativa sem fim aqui, mas acho que já te apresentei afirmações perfeitamente ponderáveis para te provar que nada disso significa paixão. Eu não estou apaixonada por ti! Ficou claro? Hein?

E agora passa esse Oscar pra cá!

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