
Como explicar a tristeza? A conheço tão de perto. Ela tem um gosto seco, áspero, corrosivo, e tão familiar que a própria constatação me consome. Mas dessa vez ela me toma encoberta num véu incógnito, percorro agora um território tão desconhecido, sem saber pra onde nem quando, nem o que vai restar de mim caso chegue. Nada disso, nunca, foi minha escolha. Estou tão triste que não há interface de linguagem. Quisera eu uma mão adentrando garganta abaixo e arrancando o buraco negro que jaz entre meus pulmões.
Há um espaço insustentavelmente vazio. Ele se expande pelos minutos do relógio. Cada segundo é um ano a menos, já não sei se para frente ou para trás. Como são frágeis estas tais linhas tênues, posto que outrora o mesmo espaço fora tão afortunadamente cheio, repleto, rico. Tanto faz. Não estou mais morrendo, quem está ainda vive.
Tem algo morto dentro de mim. Te chamei de assassino ainda incrédula sobre o fim. Terias tu, matado minha capacidade de confiar, e aquela parte que, por causa de cada parte, olhar ou pequeno gesto teu, sorria vencedora em conseguir acreditar mais um pouquinho no mundo? Isto me soa tão injusto que chega a ser psiquicamente ilícito, mas qual a indenização capaz de reparar um dano na alma?
Tem algo morto dentro de mim. Te chamei de assassino ainda incrédula sobre o fim. Terias tu, matado minha capacidade de confiar, e aquela parte que, por causa de cada parte, olhar ou pequeno gesto teu, sorria vencedora em conseguir acreditar mais um pouquinho no mundo? Isto me soa tão injusto que chega a ser psiquicamente ilícito, mas qual a indenização capaz de reparar um dano na alma?
Me sinto roubada. Sinto que fui roubada, em algo tão precioso, e de forma tão majestosa que estou empobrecida por dentro. Me sinto escassa, roída, e não posso mais levantar agora, em parte porque não consigo, em outra porque estou tão absurdamente cansada que nem sei como.
Havia um flor cerrada, que foi convencida a se abrir. A flor se abriu com todo o esforço e coragem que lhe restara nas raízes já inférteis, mas com tanto encanto e vontade que fora a mais bela já testemunhada por qualquer retina. E então, no auge do seu esplendor, se fez inverno,. A flor secou, sem deixar nenhum rastro de seu inebriante aroma, cor ou milagre. Pereceu com dor, e morreu triste.