- Nem adianta eu começar que tu não vai entender.
- Não vou entender o que?
-Eu sei o que tu pensa. Tu, e os outros médicos também.
- Que bom, quem sabe tu podes me ensinar como fazer isso. Porque eu não sei como se descobre o que os outros pensam. E vou precisar da tua ajuda para saber o que tu pensas.
- Tu achas que eu sou louco. Tu, e todo mundo. Ninguém entende. Quantas vezes vou ter que repetir isso, porra? Fica aí achando que eu sou louco mesmo, e tudo certo.
- Se tu tens isso como verdade, o que vier a partir disso é lucro.
- Tu é bem engraçadinha, né. Não adianta, ninguém entende.
- E tu? Tu mesmo, entendes?
- Eu sinto. Não sei se entendo.
- Se sentes, será que podes me ajudar então?
- Tu que tem que me ajudar, tu quem faz isso aqui, tu que estuda pra isso.
- Sozinha, não faço nada. Não aprendi na escola a fazer mágicas.
Para, olha em surpresa. Sorri pela primeira vez. Cessa a guerra verbal.
ATO II
Recomeça a guerra verbal.
- Tu até que sabe fingir bem que entende certas coisas.
- Tu também até que sabe fingir bem que me deixa entender certas coisas.
Ele ri.
- Tu curte me acertar em cheio, né?
- Tu “curte” transformar tudo em um duelo, né?
- Touché.
ATO III
Silêncio, mas com certa inquietação corporal, mover de mãos. Fita o aquário, parece se distrair ao observá-lo, e penso que já o perdi novamente. E lá permanece por 20 minutos. Deixo que se vá. Mas ele volta. Olha com firmeza, e me diz com consistência na voz:
- “ Imagina um peixe!”
(Pausa, respira mais fundo)
- Um peixe, que tem toda imensidão do oceano a seu dispor. Que pode, se quiser, ir lá no fundo do oceano, onde o homem nem suporta fisicamente, e mesmo que suportasse, ele se aterrorizaria”.
No momento que o peixe morde uma isca qualquer, que lhe cruze o caminho. Ele o faz, não porque ele quer abrir mão do oceano. Louco ele seria se quisesse abrir mão do oceano.”
Ele o faz porque pensa que tem alimento ali, dando sopa, ele é enganado, mas só cai porque ele quer viver. E em troca da vontade dele de viver, ele ganha a morte. É o risco. Se ele parar pra cada comida que surgir, e pensar, ‘nem vou morder, vai que tenha um anzol por trás’ ele morre de qualquer jeito. Mas daí ele morre por medo de morder anzóis, e não por querer viver”.
- Muito bem, estamos conversando agora. E quanto aos peixes ali, no aquário?
- Esses aí coitados, nem sabem que existe oceano. Nasceram ali, e acham que essa é a realidade. Tem a limitação das paredes de vidro, servem de entretenimento pros olhares curiosos. Mas também, recebem comida segura, e constante. São peixes-enfeite, não seres-vivos.
ATO IV
- “Quero te perguntar uma coisa. Será que, quando eu estiver fora da água, né? Será que tu vai me colocar num aquário, ou tu vai me lançar de volta pro mar?”
- “Tu quem vais escolher para onde ir. O que posso fazer é te ajudar a refletir sobre essa escolha, e continuar aqui, independentemente dela”.
ATO V
- “Talvez respirar o ar não pese tanto como eu achava. Mas estou começando a pensar que fora da água, talvez eu não morra assim, tão rápido. O que também não me tira o oceano.”.
(...)
" The lunatic is on the grass
The lunatic is on the grass
remembering games and daisy chains and laughs
got to keep the loonies on the path
The lunatic is in the hall
the lunatics are in the hall
the paper holds their folded faces to the floor
and every day the paper boy brings more
And if the dam breaks open many years too soon
and if there is no room upon the hill
and if your head explodes with dark forebodings too
I'll see you on the dark side of the moon
The lunatic is in my head
The lunatic is in my head
you raise the blade,
you make the change
you rearrange me ' till I'm sane
you lock the door
and throw away the key
there's someone in my head but it's not me
And if the cloud bursts, thunder in your ear
you shout and no one seems to hear
and if the band you're in starts playing different tunes
I'll see you on the dark side of the moon
And all that you touch
and all that you see
all that you taste, all you feel
and all that you love
and all that you hate
all you distrust, all you save
and all that you give
and all that you deal
and all that you buy, beg, borrow or steal
and all you create and all you destroy
and all that you do
and all that you say
and all that you eat
and everyone you meet
and all that you slight and everyone you fight
and all that is now and all that is gone
and all that's to come
and everything under the sun
is in tune but the sun is eclipsed by the moon "
OBS: Agradecimentos ao meu amigo Rodrigo, que num gesto de extremo cavalheirismo criou um blog para descobrir como se colocava videos em blogs, e ensinar a tapada aqui.
"There is no dark side of the moon really... matter of fact it is all dark"
ResponderExcluir;-)
Saudades.
Shine on YOU crazy diamond.
ResponderExcluir