Nunca mais


Perdeu a conta de quanto, de como, de quais. Não quis saber os meios ou fins. Estava já por demais cansado dos fins. Lutou com afinco, mas desistiu. Não soube explicar, cessou, morreu. Chegara à exaustão da espera pelo que não vem, pelo que não é, não há, nem jamais será, seria ou foi. Havia se deixado levar, no entanto, sabia que deixou e levou também. Pensou para garantir, mas desta vez se permitiu sentir antes. Nem mais uma palavra, nem um dia, nem mais uma gota, nada. 

Alisou então as cordas bambas do violão há tanto esquecido, e por um breve instante parou sentado a sua frente. Lembrou de si mesmo quando menino, reconheceu-se, algo que de tão verdadeiro parecia surreal lhe tomou pelo cerne. Então tudo se fez calmo, até o fervor calou. Calçou a velha jeans surrada e saiu sem saber pra onde. Pela primeira vez em muito tempo sentiu o vento abruptamente de encontro à pele. Sentiu-se vivo. Sorriu de volta e se foi, levando em si apenas duas certezas no barco lançado ao alto mar dos acasos: que foi melhor assim, e que não voltaria, nunca mais.