Hoje me molha, hoje me embaça




Garganta estourada, coração para fora da coberta
Ele insiste em passar frio
O junto do chão pela mão ao acordar e o engulo de volta
Nenhuma voz me sai e não sei por onde se escondeu
Cambaleante o corpo inteiro hoje pareceu paralisar
O que se mobilizou freneticamente foram os olhos

Um pausa, um suspiro, um cigarro
Café forte na janela aberta e céu nublado
Me sentei em frente a tela branca que me espera
Ela hoje parece ser maior do que eu

Por ela deslizo os dedos percorrendo seu vazio
A arte já tem vida própria aqui dentro e quer sair
Me sinto um tanto quanto sem existência hoje
Para nascê-la com a honra necessária

Deixo a água gelada como fio de corte correr pelos punhos
Ainda pulsam
Minhas mãos se juntam em concha e seguram a água
Mergulho meu rosto e fecho os olhos
Levanto a cabeça e fito o espelho
“Coragem” meus olhos me ordenam

Saio assim, pensando se não esqueci de nada
A umidade e o frio embaçam as janelas do carro
Olho o retrovisor e vejo o orvalho nos próprios olhos
Tudo aquilo que não tinha percebido, hoje me molha
Lembro-me que sim
Esqueci de algo

Para os "caras" e para as caras leitoras...

Propaganda de um blog muito bom.

Participei de um texto com o autor do blog, o Gabito.

Vale a pena conferir!

Clique no titulo.

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7 PECADOS CAPITAIS



Quando envolta em cólera
No incandescer do sangue frio
Intoxicando pelas válvulas e órgãos
Corre quente, cáustico, ardente

De uma voracidade exacerbada
Transbordante que não posso digerir
Ao ponto de insustentável à garganta
Mas sigo com fome de mais e de tudo

E invejo como o sol cobiça
Aos luares de outras noites
Aspirando tudo que não possuo
Quero o que às estrelas pertence

Me tomo em imponência desmedida
Numa onipotência majestosa
E não me falha onde me fraudo
Mas me engrandeço por sabê-lo

E por repudiar a escassez
Economizo além do que devia
A trancafiar riquezas e relíquias
Sem despedidas por minhas partidas

Tudo aquilo que deixo para depois
Integra o que não me dará no hoje
Prefiro transitar no martírio
Pois só assim alcanço o alívio

E nessa minha impulsividade desenfreada
Tenho na luxúria o hedonismo mais doloso
Pelo exagero, em demasia e paro o excesso
Onde broto, permaneço e me desfaço

E que me atirem os rochedos ao telhado
Pois ainda tenho outros pecados resguardados
Que por blindagem a qualquer pedra atirada
Não rescindem, nem abalam
Fui feita de vento e fogo
E quando em ferro me faço
Em aço me transformo

Como nasce um quadro



Melhor cena do filme Modigliani, que mostra alguns mestres do surrealismo, Picasso, Kisling, Rivera, Soutine, Utrila e o próprio Modigliani durante o trabalho de parto, dando à luz.

Uma nota sobre a força


Se tu entrares em uma academia para fazer um treino, seja de ele de força, de hipertrofia ou de resistência, mas que envolva pesos, não vai precisar usar nada além dos teus músculos, para descobrires que a carga que tu colocares, ou a barra que tu montares, só vai se mover no momento em que tu estiveres aplicando alguma força sobre ela. Se a força faltar ou cessar, o peso não se moverá. No caso de cessar inclusive, se a falha não for prevista, tu podes te acidentar de uma maneira bem tosca.

Isto é algo tão obvio que tu não precisas nem mesmo pensar para saber. Mas lá na Grécia antiga, uma época anterior a Globo, e outras formas duvidosas de entretenimento do povo, quando os caras não tinham gente pensando “por eles” nem “para eles”, eles se divertiam muito em se reunir simplesmente para raciocinar. E a partir de tal observação, Aristóteles chegou a seguinte conclusão:

“Um corpo só permanece em movimento se sobre ele estiver atuando uma força”.


E assim passou a se pensar até o Renascimento. Galileu, que achava que a coisa não podia ser tão simples assim, começou a estudar mais profundamente sobre o assunto. Após a realização de vários experimentos, ele percebeu que se não houvesse a presença do atrito, o tal corpo em movimento não pararia no momento em que cessasse a aplicação da força sobre ele, ao contrário do que pensava Aristóteles.


Em outros termos, ele sacou que, não somente para que se possa alterar o estado de repouso se faz necessária a aplicação de uma força sobre ele, mas que, uma vez que iniciado o movimento e depois de cessado a aplicação da força, e livre da ação da força de atrito, o corpo permanecerá em movimento retilíneo uniforme (MRU) indefinidamente.


Os experimentos de Galileu levaram à conclusão da seguinte propriedade física da matéria: inércia. Segundo essa propriedade, se um corpo está em repouso, ou seja, se a resultante das forças que atuam sobre ele for nula, ele tende a ficar em repouso. E se ele está em movimento ele tende a permanecer em movimento retilíneo uniforme.

Sim, estudei física no colégio. Só que na época, nenhum professor ressaltou a importância destes descobrimentos para a vida. Ou seja, no momento em que desejamos que qualquer coisa saia da inércia para começar a se mover, é necessário aplicar sobre ela uma força maior do que a força que a faz permanecer na inércia. As vezes, isto exige bastante, o suficiente para causar um certo incomodo. Outras o bastante para causar dor, bem mais intensa do que as tuas fibras musculares se rompendo como em um treino bem feito.


Nós, nobres mortais, somos diariamente atravessados por um sem número de forças de todos os lados. Vivemos num mundo que nos convoca diariamente a cair na tentação de seguir a correnteza da loucura que (assustadoramente) é o que se considera normal. Aqueles poucos que conseguem preservar o que possuem de essência, de mais seu, inevitavelmente sentirão dor com isso. Vai doer sim. E haja bíceps, ombros, deltóides e pernas para remar contra a correnteza.


Eis a necessidade das pessoas de endurecerem, e mesmo de se fecharem algumas vezes. Elas o fazem, por pura preservação de si. Isto confunde-se com fraqueza. Até este conceito, no meio da loucurada atual, esta distorcido. Quem é mais forte? Quem tem mais títulos? Mais poder? Mais dinheiro? Quem não ama? Os que se acham “fortes” por tais condições, não passam de pobres cordeirinhos de 1/7 de tigela. Sim, nem meia tigela, eles alcançam.


É preciso uma força sobre-humana, para não se deixar balançar, e conseguir permanecer de pé, apesar das puxadas de tapete da vida. É preciso um sem-medida de cavalos de potência para atravessar um campo de guerra, e escolher não se anestesiar cada vez que se é ferido. É preciso coragem para se ser o que é. E indo além, para conseguir lutar consigo mesmo, no momento em que é muito tentador caminhar com a multidão. É preciso ser virtuoso ao ponto de conseguir se tornar grande frente à própria pequenez. Ao ponto de conseguir superar-se no que se tem de sintomas, de limitações, de faltas.


Pensando assim, abençoado seja o mundo perverso e caótico que nos encontramos. E abençoada seja nossa imperfeição. Sem tudo isso, não saberíamos do poder extraordinário da força que temos. E nem nos tornaríamos mais e mais fortes (estou escrevendo aqui, para os verdadeiramente fortes, apenas para ressalvar). Isso não tem preço. Mas voltando às ações. O Newton, que concordou com o Aristóteles, e formulou suas 3 leis, colocou que:


“Uma força atuante em um corpo representa a ação que este corpo recebe de um outro corpo. Ou seja, a força é fruto da interação.”


No momento em que se tem sucesso em tirar a dada coisa que se almeja da inércia, ela entrará num movimento que não necessariamente, tu terás controle sobre. Ela entrará em movimento, independentemente da força inicial que tu colocastes sobre ela, para que se movesse. Eis que encontramos uma questão, que ninguém parece ter colocado no Código de Ética dos fortes. Até porque, ninguém o escreveu oficialmente ainda também.

Mas existe, como um dever daqueles que são verdadeiramente fortes, uma responsabilidade frente às reações da força que fazem, que por sua vez, fazem com que outros corpos se movam. As ações devem ser pensadas, quando implicam que lancemos nestas uma força em alto grau. Porque algo vai mudar a partir disso. Irreversivelmente. Não se pode prever o desfecho. Mas não se deve andar pelo mundo à passeio não. Um ser verdadeiramente forte, sabe da importancia de ter um objetivo mais nobre do que o próprio umbigo, cada vez que direciona sua força para o mundo. Seja ela, numa pequena ou numa grande ação. Sempre terá a irreversibilidade do efeito.

Sim, tem mais essa. Quanto mais forte uma pessoa se torna, maior amplitude ela tem de visão, e maior a responsabilidades que ela adquire. Por isso é bem mais cômodo ser fraco, ou não muito inteligente. Bem mais cômodo.

E vem até a garganta
No contorcer do estômago
Arranhando meu esôfago
Me corroi as traquéias
Me estanca nas artérias
No retraimento dos pulmões
Num impulso, como o vento que eu bebo
E me entorpeço

No arrepio da minha pele
E transpira pelos poros
E me pulsa pelas veias
E me brota pelos olhos
E me atrela pelos passos
E se arma nos meus sonhos
E não me deixa mais dormir

Porque não para
E não cessa
Não passa
E não me lega
E não me deixa
E não tem fim
E nem conserto
Nem arremate
Ou acabamento
Mas tem história

E me toma
E me atordoa
E me fragmenta
E me engole
Mas não me cospe
Me estraçalha
E não desmancha
E me adentra
Mas não atravessa
Fica cravado
E não sai mais

E eu tranco
E eu rasuro
E eu prendo a respiração
E eu calo
E eu amarro
E eu tapo
E eu fraudo
E eu seco
E eu peco
E eu estanco
E eu escondo
E eu sorrio
E eu fecho
E eu suspiro
E eu cubro
E eu seguro
E eu engulo
E eu canso
E não sustento

Então escrevo...

EROS E PSIQUE


Em meio à inveja que emanas
Da pureza ainda em forma bruta
Não te conformas com a beleza
Se esta não for lhe pertencer

No coração de nossa gente
A precaução terrorizada
Por onde se deveriam enlaçar
Se rompem e desfazem

Renunciam a vastidão do empírico
Para permanecer nas certezas das trevas
Sigo confiante nos imprevistos
E nas oscilações encontrando a consistência
....
Psique (ou Alma para os mais íntimos) era a filha caçula de um rei de Mileto, e era de uma beleza tão gritante, que passara a deixar Afrodite (deusa da beleza), enciumada. Ela, uma mortal, como poderia ser tão bela? Em sua ira, Afrodite envia-lhe seu filho Eros (deus do amor), para que com seus poderes, fizesse-a apaixonar pelo homem mais feio e desprezível de toda a terra.
Mas o feitiço virou contra o feiticeiro, e Eros ao encontra-la encantou-se com tanta beleza, e por ela apaixonou-se profundamente. Eros ergue um plano para o amor proibido, ordenando ao pai dela que a enviasse para o topo de uma montanha, para que fosse desposada por uma terrível serpente, fingindo seguir os comandos de sua mãe.

A jovem Psique ficou aterrorizada, mas foi levada até lá sozinha, e abandonada por todos. Foi tomada por um sono profundo, e ao despertar, conduzida pela brisa convidativa de Zéfiro (deus dos ventos), até um belo vale, onde deparou-se com maravilhoso castelo. Tamanha era a perfeição de seus detalhes, que deveria ser a morada de um deus. Toma coragem, e entra naquele palácio deslumbrante. Lá, todos os seus desejos foram realizados por ajudantes invisíveis, dos quais ela só podia ouvir a voz.

Chegando o anoitecer, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de que ali encontraria o seu terrível esposo, entrou em pânico quando sentiu que alguém entrara no quarto. No entanto, uma bela voz a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo, e à esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, o dia já raiava, e seu amante havia desaparecido. Esta mesma cena se repetiu por diversas noites.
Suas irmãs estavam a sua procura, mas o misterioso esposo não permitia que ela as encontrasse.
Ela o convence a deixa-la ver suas irmãs, e ele acaba cedendo ao seu desejo. Porem a faz jurar que ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade. Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida tomar conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
As irmãs trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso como lhe parecia. Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca, disposta a mata-lo caso ele fosse este monstro e uma lâmpada próximo a sua cama.

A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado. Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando aquele deus que sonhava ao seu lado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.

Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."

Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram para sua margem. Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as sustenta no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.

Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:

- "Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece." Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.

Ela consegue cumprir todas as tarefas a ela destinada. Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. E assim ela o fez, abdicou de parte de sua beleza para poder finalmente receber o perdão de Eros, e o consentimento de Afrodite.
Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, que permaneceu eternamente menos bela. E com ela teve um filho, chamado Voluptas (Prazer).