Uma nota sobre a força


Se tu entrares em uma academia para fazer um treino, seja de ele de força, de hipertrofia ou de resistência, mas que envolva pesos, não vai precisar usar nada além dos teus músculos, para descobrires que a carga que tu colocares, ou a barra que tu montares, só vai se mover no momento em que tu estiveres aplicando alguma força sobre ela. Se a força faltar ou cessar, o peso não se moverá. No caso de cessar inclusive, se a falha não for prevista, tu podes te acidentar de uma maneira bem tosca.

Isto é algo tão obvio que tu não precisas nem mesmo pensar para saber. Mas lá na Grécia antiga, uma época anterior a Globo, e outras formas duvidosas de entretenimento do povo, quando os caras não tinham gente pensando “por eles” nem “para eles”, eles se divertiam muito em se reunir simplesmente para raciocinar. E a partir de tal observação, Aristóteles chegou a seguinte conclusão:

“Um corpo só permanece em movimento se sobre ele estiver atuando uma força”.


E assim passou a se pensar até o Renascimento. Galileu, que achava que a coisa não podia ser tão simples assim, começou a estudar mais profundamente sobre o assunto. Após a realização de vários experimentos, ele percebeu que se não houvesse a presença do atrito, o tal corpo em movimento não pararia no momento em que cessasse a aplicação da força sobre ele, ao contrário do que pensava Aristóteles.


Em outros termos, ele sacou que, não somente para que se possa alterar o estado de repouso se faz necessária a aplicação de uma força sobre ele, mas que, uma vez que iniciado o movimento e depois de cessado a aplicação da força, e livre da ação da força de atrito, o corpo permanecerá em movimento retilíneo uniforme (MRU) indefinidamente.


Os experimentos de Galileu levaram à conclusão da seguinte propriedade física da matéria: inércia. Segundo essa propriedade, se um corpo está em repouso, ou seja, se a resultante das forças que atuam sobre ele for nula, ele tende a ficar em repouso. E se ele está em movimento ele tende a permanecer em movimento retilíneo uniforme.

Sim, estudei física no colégio. Só que na época, nenhum professor ressaltou a importância destes descobrimentos para a vida. Ou seja, no momento em que desejamos que qualquer coisa saia da inércia para começar a se mover, é necessário aplicar sobre ela uma força maior do que a força que a faz permanecer na inércia. As vezes, isto exige bastante, o suficiente para causar um certo incomodo. Outras o bastante para causar dor, bem mais intensa do que as tuas fibras musculares se rompendo como em um treino bem feito.


Nós, nobres mortais, somos diariamente atravessados por um sem número de forças de todos os lados. Vivemos num mundo que nos convoca diariamente a cair na tentação de seguir a correnteza da loucura que (assustadoramente) é o que se considera normal. Aqueles poucos que conseguem preservar o que possuem de essência, de mais seu, inevitavelmente sentirão dor com isso. Vai doer sim. E haja bíceps, ombros, deltóides e pernas para remar contra a correnteza.


Eis a necessidade das pessoas de endurecerem, e mesmo de se fecharem algumas vezes. Elas o fazem, por pura preservação de si. Isto confunde-se com fraqueza. Até este conceito, no meio da loucurada atual, esta distorcido. Quem é mais forte? Quem tem mais títulos? Mais poder? Mais dinheiro? Quem não ama? Os que se acham “fortes” por tais condições, não passam de pobres cordeirinhos de 1/7 de tigela. Sim, nem meia tigela, eles alcançam.


É preciso uma força sobre-humana, para não se deixar balançar, e conseguir permanecer de pé, apesar das puxadas de tapete da vida. É preciso um sem-medida de cavalos de potência para atravessar um campo de guerra, e escolher não se anestesiar cada vez que se é ferido. É preciso coragem para se ser o que é. E indo além, para conseguir lutar consigo mesmo, no momento em que é muito tentador caminhar com a multidão. É preciso ser virtuoso ao ponto de conseguir se tornar grande frente à própria pequenez. Ao ponto de conseguir superar-se no que se tem de sintomas, de limitações, de faltas.


Pensando assim, abençoado seja o mundo perverso e caótico que nos encontramos. E abençoada seja nossa imperfeição. Sem tudo isso, não saberíamos do poder extraordinário da força que temos. E nem nos tornaríamos mais e mais fortes (estou escrevendo aqui, para os verdadeiramente fortes, apenas para ressalvar). Isso não tem preço. Mas voltando às ações. O Newton, que concordou com o Aristóteles, e formulou suas 3 leis, colocou que:


“Uma força atuante em um corpo representa a ação que este corpo recebe de um outro corpo. Ou seja, a força é fruto da interação.”


No momento em que se tem sucesso em tirar a dada coisa que se almeja da inércia, ela entrará num movimento que não necessariamente, tu terás controle sobre. Ela entrará em movimento, independentemente da força inicial que tu colocastes sobre ela, para que se movesse. Eis que encontramos uma questão, que ninguém parece ter colocado no Código de Ética dos fortes. Até porque, ninguém o escreveu oficialmente ainda também.

Mas existe, como um dever daqueles que são verdadeiramente fortes, uma responsabilidade frente às reações da força que fazem, que por sua vez, fazem com que outros corpos se movam. As ações devem ser pensadas, quando implicam que lancemos nestas uma força em alto grau. Porque algo vai mudar a partir disso. Irreversivelmente. Não se pode prever o desfecho. Mas não se deve andar pelo mundo à passeio não. Um ser verdadeiramente forte, sabe da importancia de ter um objetivo mais nobre do que o próprio umbigo, cada vez que direciona sua força para o mundo. Seja ela, numa pequena ou numa grande ação. Sempre terá a irreversibilidade do efeito.

Sim, tem mais essa. Quanto mais forte uma pessoa se torna, maior amplitude ela tem de visão, e maior a responsabilidades que ela adquire. Por isso é bem mais cômodo ser fraco, ou não muito inteligente. Bem mais cômodo.

2 comentários:

  1. Fantástico.
    Embora eu me surpreenda, as vezes, na comodidade. O que me leva ao inconformismo.

    Mas lendo esse texto, fiquei pensando que se tu tivesse sido minha professora(!!!)na escola, talvez eu teria sido um aluno bem mais aplicado em física. hehehehehe
    Se conseguisse me concentrar. Com todo respeito. hehehehehe

    Beijao pra ti

    ResponderExcluir
  2. "no momento em que desejamos que qualquer coisa saia da inércia para começar a se mover, é necessário aplicar sobre ela uma força maior do que a força que a faz permanecer na inércia. As vezes, isto exige bastante, o suficiente para causar um certo incomodo. Outras o bastante para causar dor, bem mais intensa do que as tuas fibras musculares se rompendo como em um treino bem feito."

    Me lembrei da tua máxima do “sair da zona de conforto”.

    Sinceramente dentre as pessoas que eu conheço, ninguém melhor que tu para escrever sobre a força.

    ResponderExcluir