O preço do sorriso


Lógico que é um contrasenso presentear em datas pré-determinadas, afinal a obrigatoriedade acaba com qualquer possibilidade de simbolização, que seria o significado do presente à priori. Numa destas  incursões natalinas, ao invés de vitrines e preços eu olhei pessoas. No afã das compras, o calor, a correria, as filas, as grosserias, as sacolas, os semblantes sérios. O que vi foi tristeza por tudo e pensava, será que ninguém está percebendo o que está acontecendo ? Será que sou só eu ?

A premissa é que não tem como não comprar, é regulamento, o cúmulo da desconsideração não fazê-lo, assim manda a lei da cultura. A indústria lucra, e só, me parece. Obedeço, mortal que sou e não louca o suficiente para deixar familiares sem presente no Natal, até porque ninguém entenderia meu protesto. No entanto, é engraçado pensar que não pago por um produto, mas por um sorriso. E que é por isso que enfrento um shopping lotado, depois de rodar horas atrás de uma vaga, enfrentar fila no caixa, além de ter fôlego para procurar no meio dessa loucura algo que tenha significado, repetindo em silêncio no meio da multidão falante: vale o sorriso, vale o sorriso.