Declaração: o que simplesmente não dá!

Tem certas coisas que simplesmente não dá, pelo menos não dá para mim... Frequentemente escuto que sou uma pessoa intensa demais. O que será que quer dizer ser intensa demais? E o mais engraçado é que as pessoas que assim me definiram o fizeram tanto para me elogiar, como para me insultar, dependendo do contexto. Mas talvez eu simplesmente precise viver por inteiro. E sim, talvez isto seja intensamente.

Com a arte, por exemplo. Apesar de me encantar com a perfeição milimétrica de Miquelângelo, eu sou fascinada pelo surrealismo! Pela loucura de Dali, pelo furor de Picasso, pelo hedonismo de Modigliani, pela dor de Frida Kahlo e companhia. Obras destes podem me tocar no mais profundo eu, podem me fazer viajar por horas. Mas nem todo rabisco é arte. Desculpe.

E os livros, uma das melhores invenções do homem, depois da própria escrita. Leio de tudo, porém gosto tanto de poesia, que parece que nos momentos mais mágicos da minha vida, naqueles em que exacerbam a sensibilidade, posso escutar versos e sonetos sussurrados ao ouvido, em pleno silencio. Mas por favor! Não me venha com rimas vazias, de amor com dor, de mão com cão, o diabo!

Posso ver a musica, da forma mais visceral que se pode imaginar, a forma de linguagem da alma, algo que vem do mais-do-que, desde de que ela seja musica. Não um agrupamento de som mecanizado, cibernetizado, ou um corpinho ok que se remexe, com algumas aulas de canto, um excelente figurinista, e alguma ajudinha de efeito. Isto simplesmente não é musica.

Treino! Ah, essa é boa! Eu não malho, eu treino, e como pouca gente treina. Tenho planejamento de treino, ou seja, um treino especifico, criado e estudado, cada um com hora especifica para acontecer, tempo previamente programado, intensidades e variáveis, etc. E respeitando precisamente os intervalos ideais. Sim, precisão. Isto significa que, se a partir do intervalo, o dia de treino X cair em um feriado, um domingo, no Natal, no meu aniversario, desimporta. Eu treino nesse dia.

Cada treino é uma superação, e sempre melhor que o anterior. Então isto significa que levo a serio. Não vou ser hipócrita, adoro o efeito “colateral” do treino, meu corpo se transformando junto. Mas tem a dor, a preguiça, o conforto da cama, a vontade de ficar em casa no meio do inverno, a chuva, que tenho que vencer, e venço! Nada disso me impede, tenho com isso uma disciplina de quartel. A verdade é que treino para mim mesma, desafio e superação majoram o meu self mais selvagem. Então, se você vai na academia fazer social, jogar conversa fora, desfilar o top novo, pedir dicas de dieta, ou caçar, por mim tudo bem, desde que fique a quilômetros de distancia de mim, e não atrapalhe meu treino!

E claro, o amor... Ah, o amor. Eu quero sim a sorte de uma amor tranqüilo, com gosto de fruta mordida, na batida, no embalo da rede... mas se não começar matando a sede na saliva, nem chance de que chegará nessa parte. Não quero metades, e me ferro por isso, por que muito calor queima. Mesmo assim, dispenso o que é morno.

Não quero apenas corpos se tocando. Não quero joguinhos de sedução. Esses do tipo, “vou ligar agora, e fingir que estou saindo”. Ou mesmo, “vou me fazer de completamente indisponível” ou “um pouco não-to-nem-ai”. Poupe-me! Se eu ligar e estiver saindo, vai ser pra dizer que estou chegando. E se eu quiser ver, ouvir, abraçar, beijar... se eu sentir saudade.. a pessoa saberá (assim como também saberá se eu não quiser nada disso).

E se o tempo não parar, se eu ver cada longo minuto passar, não vai dar. Não quero apenas palavras bonitas, muito menos galanteios ocos. Quero adiante, quero alem do invólucro. E tentativas ensaiadas de sedução (e olha que tem umas muito bem ensaiadas), fazem-me apenas correr para bem longe. O que na verdade me é sedutora é a espontaneidade, que nada mais é do que o inteiro em parte. E engraçado, isso é muito mais difícil de encontrar do que parece. E mesmo quando existe, eu posso gostar ou não, simples assim (falo aqui de qualquer tipo de sedução entre seres-humanos).

Quero o além-da-casca, o inominável, a sinfonia inteira. Quero aquilo que sorri, que sangra, que chora, que toca, que grita, e que as vezes mesmo enlouquece, mas que é de verdade.

Talvez a intensidade nada mais seja do que o peso do real. E o real pesa. E assim tem que ser. Senão, para mim, não dá!

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