E vem até a garganta
No contorcer do estômago
Arranhando meu esôfago
Me corroi as traquéias
Me estanca nas artérias
No retraimento dos pulmões
Num impulso, como o vento que eu bebo
E me entorpeço

No arrepio da minha pele
E transpira pelos poros
E me pulsa pelas veias
E me brota pelos olhos
E me atrela pelos passos
E se arma nos meus sonhos
E não me deixa mais dormir

Porque não para
E não cessa
Não passa
E não me lega
E não me deixa
E não tem fim
E nem conserto
Nem arremate
Ou acabamento
Mas tem história

E me toma
E me atordoa
E me fragmenta
E me engole
Mas não me cospe
Me estraçalha
E não desmancha
E me adentra
Mas não atravessa
Fica cravado
E não sai mais

E eu tranco
E eu rasuro
E eu prendo a respiração
E eu calo
E eu amarro
E eu tapo
E eu fraudo
E eu seco
E eu peco
E eu estanco
E eu escondo
E eu sorrio
E eu fecho
E eu suspiro
E eu cubro
E eu seguro
E eu engulo
E eu canso
E não sustento

Então escrevo...

3 comentários:

  1. E Lacan disse que era impossivel definir a angustia.

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  2. Intenso. Como não poderia deixar de ser...
    Engraçado.
    Que me sobe até a garganta, e também me corroi, me arrepia, me pulsa. E eu também me calo, com a boca de .....

    De qualquer forma ja me disse o que é o sufoco. Minha vez.

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