Hoje me molha, hoje me embaça




Garganta estourada, coração para fora da coberta
Ele insiste em passar frio
O junto do chão pela mão ao acordar e o engulo de volta
Nenhuma voz me sai e não sei por onde se escondeu
Cambaleante o corpo inteiro hoje pareceu paralisar
O que se mobilizou freneticamente foram os olhos

Um pausa, um suspiro, um cigarro
Café forte na janela aberta e céu nublado
Me sentei em frente a tela branca que me espera
Ela hoje parece ser maior do que eu

Por ela deslizo os dedos percorrendo seu vazio
A arte já tem vida própria aqui dentro e quer sair
Me sinto um tanto quanto sem existência hoje
Para nascê-la com a honra necessária

Deixo a água gelada como fio de corte correr pelos punhos
Ainda pulsam
Minhas mãos se juntam em concha e seguram a água
Mergulho meu rosto e fecho os olhos
Levanto a cabeça e fito o espelho
“Coragem” meus olhos me ordenam

Saio assim, pensando se não esqueci de nada
A umidade e o frio embaçam as janelas do carro
Olho o retrovisor e vejo o orvalho nos próprios olhos
Tudo aquilo que não tinha percebido, hoje me molha
Lembro-me que sim
Esqueci de algo

2 comentários:

  1. Nossa pequena!
    Tu mata a pau!
    Visceral, como sempre.

    ResponderExcluir
  2. Eu fiquei com vontade se chorar. Sei sobre o que tu escreveu, o que não vem ao caso neste comentário, só queria registrar que quanto mais eu te conheço, mais eu acredito no ser humano.

    ResponderExcluir