Desculpe decepcionar...



Quem me acompanha já percebeu. Até quem me vê lendo o jornal ou na fila do pão já se deu conta. Para quem me escutar cantarolando pelas ruas, estará na cara. Mesmo que não escreva necessariamente sobre mim, não há como separar por completo a escrita do autor. Perdi o fio? Talvez. Sigo escrevendo assim mesmo porque escrever não é para quem quer. Nem para quem pode. É para quem não tem escolha.

O conteúdo mais aéreo dos escritos, entretanto, parece estar aborrecendo alguns e dentre estes, alguém em particular. Gosto bastante de saber que incomodo, me ampara de cair na mediocridade. Uma amiga certa feita me cuspiu uma sentença que me transtornou brevemente, referindo-se às mulheres. Disse que elas toleram outras mulheres bonitas e burras. Feias e inteligentes também. Segundo ela, para a maioria representacional do gênero, “mulheres bonitas e inteligentes não tem perdão”.

Vou além. O que incomoda o cerne da falta de existência é felicidade. Fato. Sempre fui muito íntima da tristeza, uma das melhores amigas de um artista. Construímos – eu e ela – uma relação sólida, miraculosamente baseada em completude. Uma trazia os desencantos, a outra transformava em cantos. Minha lealdade é tamanha, que adoraria ter mesmo feito ou passado – por pelo menos – metade das coisas que dizem por aí que vivi. Certamente minha escrita seria densamente mais interessante. Além de que eu entraria no livro dos recordes por ter superado os limites humanos de sobrevivência.

Suscitaria curiosidade e me faria vender livros. Isso sem mencionar o conteúdo ilimitado da minha biografia. Dariam roteiros de filmes a peças jamais representadas na esfera cinematográfica ou na história teatral. Também não hei de desmentir nada. Conhecem aquela velha história falem bem, falem mal? Se a frase clichê não existisse, eu a patentearia. Até porque se falam pelas minhas costas, significa que estou no lugar certo, na frente.

Ocorre que o inesperado me aconteceu. O pesadelo de qualquer poeta. O letargo de um artista. O fim do bom samba. Foi de repente, súbito, impensado, repentino. Me vi assim, admirando o jardim do vizinho que nunca tinha reparado. Vendo mais cores, encontrando sentimentos escondidos, caçando sonhos fujões. Sorrindo sozinha. Boba. Tola. Ridícula. Feliz.

Tenho dificuldade em lidar com isso. Por vezes me vejo desejando ter a minha tristeza de volta. Ou a minha revolta crônica, que permeia de sarcasmo meus textos. Sei que voltará qualquer dia desses, só não sei quando. Enquanto isso os “anônimos”, que certamente não se alfinetavam com uma garota triste, vão ter que continuar não suportando me ver assim, rindo à toa.

Entendo, eu mesma quase não suporto. Mas o que eu vou fazer? Garanto que tenho tentado! Tenho lido Lipovetsky e Nietzsche como nunca. Inclui no Ipod músicas que fariam qualquer “Emo” revirar o olhinhos. Revi varias vezes “Réquiem para um Sonho”, “As Horas”, “Dançando no Escuro”, dentre outros. Derramo algumas lágrimas discretas, esfrego o nariz e não dá 5 minutos estou sorrindo de novo.

Será que terei que apelar? Assistir a Globo? Freqüentar baladas? Comprar literatura de auto-ajuda pra ver até que ponto as coisas chegam? O problema é com a permanência da sensação: ela parece não perdurar. Não tenho culpa, aconteceu. A vida sorriu pra mim. Ou eu pra ela. Ou as duas coisas. Prometo que seguirei tentando, mas por hora estou estupidamente feliz. Desculpe decepcionar.

5 comentários:

  1. Stepeleft! Lindo texto, Manu! Ele transborda sorrisos assim como a imagem do topo.

    Beijos!

    PS: Chora secador!

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  2. Pois eu sempre achei que a felicidade te caia bem, sabia?
    Me enche o peito, os olhos e o sorriso ler isso.

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  3. Ah, só uma coisa pequeña..
    O sarcasmo não tem jeito de tu perder.

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  4. Inusitado e encantador. Vou twittar. Adorei isso. Mas eu acho que tu tá com medo de escrever sobre felicidade e descaracterizar você mesma. Alfinetei!

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  5. Já tinha lido o início do teu texto, no nick de uma conhecida e adorei. Mas ler o texto todo e se dar conta da felicidade que está sentindo é muito melhor. Acho que a paixão saudável, bem vivida e aproveitada é tão boa companhia prum escritor qnto a tristeza.

    Adoreiii... não vejo a hora de me sentir assim... começar a reparar o jardim do vizinho, que no meu caso sei que existe, mas nunca dei mta importância!!!

    Beijos

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