EROS E PSIQUE


Em meio à inveja que emanas
Da pureza ainda em forma bruta
Não te conformas com a beleza
Se esta não for lhe pertencer

No coração de nossa gente
A precaução terrorizada
Por onde se deveriam enlaçar
Se rompem e desfazem

Renunciam a vastidão do empírico
Para permanecer nas certezas das trevas
Sigo confiante nos imprevistos
E nas oscilações encontrando a consistência
....
Psique (ou Alma para os mais íntimos) era a filha caçula de um rei de Mileto, e era de uma beleza tão gritante, que passara a deixar Afrodite (deusa da beleza), enciumada. Ela, uma mortal, como poderia ser tão bela? Em sua ira, Afrodite envia-lhe seu filho Eros (deus do amor), para que com seus poderes, fizesse-a apaixonar pelo homem mais feio e desprezível de toda a terra.
Mas o feitiço virou contra o feiticeiro, e Eros ao encontra-la encantou-se com tanta beleza, e por ela apaixonou-se profundamente. Eros ergue um plano para o amor proibido, ordenando ao pai dela que a enviasse para o topo de uma montanha, para que fosse desposada por uma terrível serpente, fingindo seguir os comandos de sua mãe.

A jovem Psique ficou aterrorizada, mas foi levada até lá sozinha, e abandonada por todos. Foi tomada por um sono profundo, e ao despertar, conduzida pela brisa convidativa de Zéfiro (deus dos ventos), até um belo vale, onde deparou-se com maravilhoso castelo. Tamanha era a perfeição de seus detalhes, que deveria ser a morada de um deus. Toma coragem, e entra naquele palácio deslumbrante. Lá, todos os seus desejos foram realizados por ajudantes invisíveis, dos quais ela só podia ouvir a voz.

Chegando o anoitecer, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de que ali encontraria o seu terrível esposo, entrou em pânico quando sentiu que alguém entrara no quarto. No entanto, uma bela voz a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo, e à esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, o dia já raiava, e seu amante havia desaparecido. Esta mesma cena se repetiu por diversas noites.
Suas irmãs estavam a sua procura, mas o misterioso esposo não permitia que ela as encontrasse.
Ela o convence a deixa-la ver suas irmãs, e ele acaba cedendo ao seu desejo. Porem a faz jurar que ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade. Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida tomar conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
As irmãs trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso como lhe parecia. Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca, disposta a mata-lo caso ele fosse este monstro e uma lâmpada próximo a sua cama.

A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado. Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando aquele deus que sonhava ao seu lado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.

Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."

Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram para sua margem. Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as sustenta no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.

Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:

- "Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece." Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.

Ela consegue cumprir todas as tarefas a ela destinada. Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. E assim ela o fez, abdicou de parte de sua beleza para poder finalmente receber o perdão de Eros, e o consentimento de Afrodite.
Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, que permaneceu eternamente menos bela. E com ela teve um filho, chamado Voluptas (Prazer).

4 comentários:

  1. Saudade das tuas histórias mitológicas.

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  2. "Sigo confiante nos imprevistos
    E nas oscilações encontrando a consistência"

    ...

    E que o acaso te protejas, quando andares por aí distraída.

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