A noite de Eros






Pela forma como um homem pode contornar o corpo de uma mulher sem nem ao menos tocá-la. Através do olhar do desejo precoce e tardio, sedento por consagrar a exploração de sua essência feminina, ao inspirá-la e absorve-la em pele, deitada sobre os cúmplices lençóis de um quarto.

Sob domínio desse olhar sem fala, mas rico em todas as sentenças, sacramentado como a promessa de devoção ao deleite compartilhado, todos os átomos que compõem o corpo de uma mulher se abrem.

Sob ordem da luxúria, ela se oferta à posse que polariza entre rijeza e suavidade. Esta que lhe rastreia segredos, irrigado em provocações majestosas como a sugestão dos céus aos dotados de asas.

Sua silhueta agora é pulsão em feitio, delineada e moldada por ele, enquanto renasce de sua própria entrega. A entrega a este, que ela quer consumir a cada gota de suor, lhe confiando toda exclamação em vibrato, lhe revelando cobiça em melodia ao pé do ouvido, entre volições da fricção contra a pele tenra, da aspereza da barba não feita contra a delicadeza da face.

E ele a contempla, em toda singeleza, em cada detalhe, por anseio violento em querer vir. Assim, ele a toma. A partir de então o corpo dele é sua nova casa, a alma dele seu novo endereço, polarizado enquanto ela se perde na própria moradia. Até que em ápice, na ebulição dos sentidos e sentimentos, ela vê brotar na flor da própria pele a explosão do fastígio, lhe vestindo o nu de prazer e pétalas, a todo e cada canto de espírito.
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9 comentários:

  1. Com certesa você desconhece a palavra do Senhor, o que é uma pena porque é uma boa escritora, e se foi abençoada com este talento deveria usar suas palavras em nome de Deus e de Jesus ao invéz de propagar os pecados, você mesma tem um texto sobre os pecados onde parece insinuá-los e não creio que isto venha de você pois o demônio realmente existe e fala pelas pessoas que ainda não se deixaram tocar pela palavra Dele e por isso estão menos protegidas inclusive você fez uma oração alterada, espero que permita que Jesus entre em sua vida.

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  2. Tatiana.

    Eu desconheço mesmo a tal palavra do “Senhor”, mas eu conheço a palavra portuguesa, sendo que “certesa” e “invéz” me balançaram as trevas por aqui.

    E já que estas a me aconselhar, devolvo-lhe a gentileza, lhe recomendando que conheças a palavra de Nietzsche. Espero que permitas que a filosofia, a literatura, a liberdade de expressão, a arte e a mente aberta entrem em sua vida.

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  3. Manuela, se o Senhor existe, você é filha dele. Assim como é filha de outros deuses como Fernando Pessoa, Olavo Bilac, Bukowski, Oscar Wilde, Nélson Rodrigues entre tantos outros.

    Mas perdoai, só a hipocrisia é pior que a ignorância. Não há de que ruborizar-se com sexo em poesia. E os bailes funk vão bem, obrigado!

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  4. A Tatiana soube reconhecer muito bem o ballet do pecado, né? Muito interessante...

    Adorei seu texto Manuela. Escreves muito bem, com muita sutileza, mesmo quando trata-se de um pecado tão demoníaco... Rs
    Abraços!

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  5. Agora sim a imagem fez jus à altura do texto. Lindo, por sinal.

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  6. Sim Ju, na verdade era essa imagem que eu procurava, apenas não sabia. Obrigada pela contribuição, esta e tantas outras.

    Anjo Gabriel, (pra aproveitar a deixa do Senhor). Que honra. Se assim for, somos irmãos então, perante os deuses.

    E Carina, bem vinda ao calor do meu humilde inferno. =)

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  7. Manuzinha, o texto tá lindo. Pura arte. Está eternizado um momento sublime de duas almas que se amam muito.

    Quanto ao comentário da ovelha fã do teu blog, ela podia fazer algo de útil como ajudar entidades, crianças de rua ou animais indefesos. Isso é o que esses pregadores do Jesus Surdo, que ficam gritando e enriquecendo os espertos, deveriam fazer ao invés da hipocrisia besta de criticar poesias de amor. Ora, logo o amor.

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  8. Manu...

    Há alguns dias, muitos talvez, fui apresentada a ti pelo Gabito, rs. Desculpa Gabito, mas ainda não me pronunciei em teu blog! Faltou-me coragem ante a perfeita simetria dos teus textos. Enfim... encorajou-me a prepotência em uma vil mortal tentar vilipendiar a poética intenção das palavras da Manu. E foi isso que aconteceu, rebelei-me e saí da sombra...
    O demônio fala por nós, pois sim! Insulta o demônio quem acha que ele precisa desse e outros artifícios para pronunciar-se. Cada um tem o seu próprio demônio... aquele que nos corrói as entranhas, nos amorna diante da vida, do bom e do belo.
    Viva a estética das palavras. Viva a vocês caros poetas de almas cingidas, aquelas que foram cortadas com faca sem fio e desencorajadas a viver intensamente seus sonhos e suas emoções. Cutuquem nossos ânimos tamanha violência para que, com a força do petróleo rasgando a terra, ele consiga quebrar a camada pré-sal e emergir.

    ...quase já consigo respirar!

    Beijos,

    Adriana Galhardi

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  9. Caríssima Adriana, defensora da poesia do mundo.

    Fiquei encantada com tuas palavras. Espero poder trocar outras contigo. Pena que não deixastes contato. O meu esta aí, a disposição. Grande abraço.

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