Assassinos de oportunidade


Funciona mais ou menos assim. O reflexo do homem que se afoga é agarrar-se a qualquer objeto que encontra na frente, mesmo que ele seja um fio de palha. É dentro da mesma dialética. Dois seres imersos no oceano engolindo água salgada agarram-se um no outro e matam-se simultaneamente.

A questão central é que eu jamais estive imersa no oceano. Se algumas vezes estive em cima de uma canoa furada que o parta, é outra história. Mas e daí? Sempre deu tempo de chegar à ilha antes do barco afundar.

Mas se remar cansa, cansa mais nadar. E se não souber nadar, afunda. Esse é o litígio, nadar sem alcançar terra seca, ou afundar descansado. Cansei de te perguntar e tu disfarçar que não ouviu, e cansei de ter que fingir que não ouvi a barbaridade que tu falas. Se tem alguma coisa que realmente me faz querer afundar de vez, bem longe e bem sozinha, é isso. Chega de abastecer tua munição de morte com vida. E portanto, meu caro, não. Por isso, sim.

Assassinato é o nome. E não falo de homicidas em prol da própria sobrevivência, pois estes ainda assim refletem no sangue da própria faca algo de honra. Assassinos de oportunidade, de aluguel, profissionais, que o fazem por amor ao ofício, pela dose contida de adrenalina em cada vida que se vai lhes trazendo a sensação de soberania. Me falas de amor para nutrir meu ódio, que cresce em força cavalar. O que tu sabes sobre amor? O que tu sabes sobre a vida, e as pessoas, e esse castigo olímpico que tu chamas de mundo?

O que tu sabes sobre dor, e sobre o que esta pode fazer de estrago num coração humano? Te respondo, tu nada sabes sobre isso. O que tu sentes é ausência de prazer completo, falta de gozo pleno, o que tu sentes é teu ego contrariado, e teu orgulho ferido, e isso em nada me comove ou me enternece.

Lamento muito te informar, mas amor está a milhões de anos luz de distância do teu egoísmo, do teu cárcere dentro de ti mesmo, das tuas carícias letais, das tuas lanças afiadas que atravessam a carne seguidas afagos tão seguros quanto a queda do décimo segundo andar, desse sarcasmo corrosivo e auto-suficiente, e dessa cruz de pedra que tu cravastes cerrada no peito que vos fala para não contente, revirar. E isso que tu sentes e chamas de dor, não chega nem perto da casquinha da ferida mais superficial que eu tenho, e nem por isso eu mato alguém.

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