(...)

- O que a gente faz quando a gente erra?

- Primeiro admite, pra si mesmo. Depois pede perdão, para quem envolvemos neste erro.

- Se não tem perdão?

- De que tipo de erro estamos falando aqui?

- Daquele tipo de erro em que tu podes dividir os momentos entre antes e depois dele.

- Erro grave, erro mesmo.

- Sim.

- Bom... Se não tem perdão, a gente deve tentar consertar.

- Se não tem conserto?

- Bom, se tu me diz que não tem conserto... É porque certamente tu já percorrestes um longo caminho, desde que admitiu o erro, até me fazer esta pergunta.

- Sim.

- E te garantiu que isto que dizes é fato? Que realmente não tem conserto? Tentou de verdade conserta-lo?

- Eu tentei.

- Tentou, ou tentou te desculpar?

- Tentei consertar... tentei pedir desculpas...
O que tu estas me perguntando, de verdade?

- Te pergunto, na verdade, se tu permaneces no erro. Porque às vezes, o conserto significa simplesmente parar de errar.

- Ainda não consegui elevar-me ao ponto de conseguir parar de errar.

- Mas veja bem. Eu falo aqui deste erro especifico. Não da condição intrínseca ao fato de se ser humano, e consequentemente errar.

- Sim, eu entendi. E respondi.

- Então, tu não percorrestes todos os caminhos. Tu podes ter reconhecido, e tentando remendar, renomear, ou sei lá que caminhos podes ter escolhido. Mas tudo a partir de. Como tu mesma disse, um erro em que divide os tempos entre antes e depois. Tu percorrestes apenas o depois.

- Mas e se eu não tenho mais acesso ao antes?

- Vai ser a conseqüência do teu erro. Mas vai ter que de alguma forma, se realmente estiver disposta a consertar, a andar por lá.

- Sim, mas vou voltar pra lá sozinha.

- Sim, assim como saiu de lá sozinha.

- Mas nunca mais vai ser igual.

- Mais uma vez, conseqüência do teu erro.

- Então não tem conserto, porra!

- Conserto sempre tem. O que pode é não ter perdão.

- E o que eu faço se quero consertar, e quero muito ter perdão?

- Conserta, que vais chegar no perdão. Nem que seja no teu próprio.

(...)

4 comentários:

  1. Vou ter que te ligar pra comentar, so vou registrar um "bah" , por aqui.

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  2. Sim, no final das contas é o que nos faz poder voltar a deitar a cabeça no travesseiro... e dormir.

    Belo texto.

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  3. E que ainda exista amor pra recomeçar.

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  4. Ola Manuela

    Meu nome é Paulo, sou escritor, e achei este seu espaço aqui por acaso. Fiquei surpreso ao me deparar com sua idade, já que eu pelo menos, aos 26 anos, não teria nem vivencia para escrever assim. Tens uma escrita ousada e visceral, bem cativante. Nunca pensou em publicar?
    De qualquer forma parabéns, continuarei acompanhando.

    Um abraço!

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