Mariana


Dizem alguns psicanalistas, estudiosos do assunto, que o primogênito é um eterno filho único, frustrado em não ter sido suficiente ao ponto de preservar sua unicidade. Que jamais recupera-se do “trauma”, e procura o resto da vida ser único e melhor em tudo, numa tentativa em restaurar essa suposta falta que ele pensa que teve.


Os caras estudam, e teorizam sobre isso, mas não sei... trauminhas latentes a parte, eu detestaria ter sido filha única.


Sem ninguém para poder dividir os anos constituintes do meu eu, quem iria me lembrar de mim mesma quando a vida me força a esquecer?


Sem ninguém para compartilhar os castigos, brigas bobas (e sérias), disputas de espaço, quem iria fazer vez da minha própria diferenciação e noção de individualidade?


Sem ninguém para chorar abraçada no chão, ou dar gargalhada de madrugada, quem iria me trazer essa humanidade e noção de pertencimento?


Sem uma taurina teimosa e centrada para me dizer que estou viajando, e me mandar voltar da lua, quem iria me ensinar que sagitarianos erram nas flechas, mesmo se achando bons arqueiros?


Sem aquele sorriso que me alivia o espírito, pra me dizer que tudo bem, que perdoa meus egoísmos, minhas vaidades, e meus todos 7 pecados capitais?


Sem alguém para me dar a mão, e o braço, e o ombro, e o colo, e o coração, quando me falta ao próprio corpo?


Sem minha pequena, para que eu me ache grande?


Ou sem minha grande, quando eu me sentir pequena?


Não posso te cumprir aquela função de irmã mais velha, de servir de exemplo, e de abrir-te caminhos. Este peso do exemplo, definitivamente, eu abdiquei desde que descobri que era gente, e que melhor seria errar e fazer, do que levar a vida em branco. Buenas, o que não fazer tu já sabe, então. E quanto aos caminhos, também não posso abri-los para ti, porque sigo tentando me achar na própria estrada. Mas posso te acompanhar no teu, e no meu tu sabes que tem lugar reservado.

Essa é a função fraterna. Somos pai e mãe, somos meninas e adultas, somos fortes frente as nossas fragilidades, temos o mesmo sangue correndo nas veias e nossa alma tem o mesmo DNA, somos parecidas em nossas completas diferenças, completamo-nos como a bailarina não pode dançar sem a musica, somos enlaçadas pela vida e para a vida. Somos irmãs.


E por isso, e muito mais que isso, saldo esse dia. E saldo a própria vida, ao me presentear contigo, naquele 14 de maio de 1986.

3 comentários:

  1. Bela homenagem.
    Parabéns às duas!

    ResponderExcluir
  2. Adorei!!! Muito Obrigado!!!

    eu te amo muito, tu sabe!!! Sempre estarei do teu lado, mesmo nos momentos em que não pareço!!! te cuida tá??!!

    beijão enorme!!

    ResponderExcluir
  3. Ai, que coisa mais mais mais. Amadaaaaaaa!!!!
    Eu tenho uma irma, sei do que tu fala, mas a minha naum escreve que nem tu.

    E Parabens pra Mariana!!!

    ResponderExcluir