Corra tola, corra!




Ela era tão esperta, ela tinha tudo planejado. Ela sabia mais do que você, ou eu, com certeza mais do que nós, vós, ou eles. Confiante, ela seguia com o nariz apontado ao céu, mas com olhos voltados para frente, quem sabe aonde vai não se entretém olhando para outra direção que não para esta.

Ela percorre atalhos conhecidos. Faz os cortes necessários. Ela paga caro e lhe diz com audácia que tem gasolina pra queimar, mas ela queima quilômetros. Ela segue hora apagando incêndios, hora gastando combustível, mas não pede ajuda. O que afinal vai mudar depois que ela se for? O sol vai continuar nascendo e se pondo, a vida continuará. Com ou sem ela. O que sempre estará ali será a estrada. Avante.

Ela engole o suspiro, mas não perde a pose, ela finge que não engasga. Mesmo que sempre carregue, não importa onde vá, ela carrega. Não tem mais como tentar lembrar do que ela esqueceu de esquecer. Ela salta em queda livre, ela queria criar asas antes de tocar o chão. Ela sabe que logo vai acabar, logo tudo isso vai passar, melhor pensar, melhor nem pensar.

Mas ela prefere atropelar a pausa, afinal de contas ela sabe o que quer, não tem tempo para isso. Está atrasada para chegar onde não precisa estar. Dirigindo na velocidade da luz, ela escuta o grito do som, ecoado na mesma voz que ela insiste em não ouvir, só porque sabe chegar mais rápido. E ele lhe diz: “corra tola”

2 comentários:

  1. é pior que toda imagem que passa.. que ela vai partir e a estrada vai ficar ali.. não importa a estrada, ela não olha pro lado.. pros lados opostos que ela carrega.. ela corre, mas ela não sai dela...

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