CREPÚSCULO SAGITÁRIO



( e um pedido de desculpas na justificação)










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Tem fases em que meu nome muda para “sumida”, e as pessoas assim me batizam. Deixo de me chamar Manuela, e passo a ser “aquela que some”.

- “Tu sumiu!”
- “Sumida!”
- “Por que tu somes assim?”

São frases que eu escuto por ai. Sim, eu tenho uma patológica falta de permanência, que vem e vai. Mas isto não significa que eu esteja pouco me lixando para os meus. E nem que eu esteja fugindo de alguma coisa, eu não fujo. Alias, encaro bem quando tenho de fazê-lo. Porem existe intrínseco ao meu eu mais primitivo, uma necessidade imensa de solidão. No presente momento estou vivendo a proximidade, e por isso posso até escrever sobre, e tentar me desculpar um pouco.

Tenho também a sorte de ter alguns poucos e bons amigos tão especiais, que me observam partir sem ter planos, e me permitem voltar quando quero. E gostam de mim, apesar disso. Sim, porque esta necessidade é minha, e eu sou egoísta o suficiente para atende-la. Ai eu fico inacessível, em plena era da comunicação. Mas eu também sei o quanto nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo e aqueles que cultivamos, então também rego e acarinho as flores do meu jardim.

Um dos melhores elogios que recebi, foi de uma grande amiga, que me disse que consegue me ter presente na minha necessidade de ausência, porque quando me faço presente, sou tão inteira que consigo preencher estes espaços, e espaços futuros que ela sabe que virão. Olha a minha sorte de ter amigos assim!

Mas nem sempre as coisas são assim compreendidas. Tem muitos que ficam chateados, que se emburrecem, que de fato se magoam, que acham que eu não tenho interesse nas amizades, e as vezes nem me querem mais de volta, porque me exigem que eu jure que não vou sair, e eu não juro o que não posso (nem o que posso). Eles tem urgência, e não conseguem entender que eu simplesmente sumo, mas que eu também sei voltar. E sei pedir desculpas. E sei recompensar.

Mas eu preciso do crepúsculo, de introspecção, de encontrar a melhor forma de expressão à mim mesma. Porque o mundo é célere, de uma loucura apressada que a gente se “acostuma” e faz de conta que é normal, que nos obriga a jogar o jogo, e tem que aprender mesmo a jogar o jogo para sobreviver. Mas chega uma hora, em prol da minha própria sanidade, que eu me tranco no camarim onde estão todos os personagens que já me vi representando, e todos os papéis pelos quais aspiro ansiosamente.

Preciso me lembrar de quem é o ator, fora de cena. Em síntese, preciso reafirmar meu pacto comigo mesma, de ser o que sou, independente do que o mundo lá fora espera ou não que eu seja. De descobrir quem eu ainda nem sei que sou. E de cogitar o que eu gostaria de ser, ou me tornar.

Eu sumo quando eu sangro. Porque o corte é meu, e eu que tenho que fechar. Eu sumo quando eu não sei mais o que fazer. Porque a duvida é minha, e eu que tenho que descobrir. Eu sumo quando me falta tranqüilidade, porque o barulho esta na minha mente, e não na melodia da vida. Eu sumo quando me escuto e não me ouço. Eu sumo quando eu tenho fome e não sei de que. Eu sumo quando eu pareço estar enxergando na neblina. Eu sumo quando eu não quero me deixar anestesiar, mesmo que assim doa mais.

Eu sumo quando tenho medo de ficar só, porque descobri que a maior solidão é querer se encontrar nos olhos dos outros. E porque eu tenho medo de ter medo.

Eu sumo porque eu preciso sumir. E para conseguir estar (e ficar) de verdade.

9 comentários:

  1. Antes de ler teu texto, passei a manhã ouvindo Piazzolla. Quando toca Años de Soledad, a repito algumas vezes.
    Talvez seja por estar com a música na cabeça, mas acho que de alguma forma ela exprime o que tu acaba de escrever.

    Um beijo pra ti!

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  2. Esta desculpada!

    Mas o teu sumir, e teu "sair de cena", sao diferentes, neh?

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  3. Querida.
    Sei o que tu perguntas. Meu sumir,que me refiro no texto, nao significa ir embora. Soh que tem horas na vida, em que tambem se tem que ir embora, e nao voltar, tu sabes. Definitivamente, nao quando se trata dos meus queridos amigos.

    Beijos mil e obrigada por me desculpar :-)

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  4. Que linda que tu eh!

    Amo-te. E obrigada por sempre voltar!

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  5. Embora eu pareça ser um dos que não te compreendem, eu consigo entender sim. Eu simplesmente fico com saudade. Ou tu pensas que tem “Manuelas” assim, sobrando pelo mundo?
    Hehehehe

    Aquele abraço do amigo que te adora (e que mesmo sabendo que tu realmente sempre volta, sofre na tua ausência)!

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  6. tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais!

    ouvi isso numa música hoje e pensei muito em ti:
    I need to take some time for myself
    and leave behind
    I want to shine over time like
    like just exist

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  7. Olá, senhorita. Muito obrigado, em primeiro lugar. Que siga lendo.

    Em segundo lugar, bom este teu texto.
    - Reserve um tempo só para você...
    - Viva sempre perto de quem você gosta...
    - Mantenha uma alimentação saudável...

    Foda, né? Na Era da Comunicação, com tudo à mão, vez e outra, sumimos. Pura necessidade. Nada de anormal, pelo contrário. Talvez apenas um pequeno capítulo da velha história dos seis BILHÕES de terráqueos que se sentem sozinhos...

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  8. Achei teu blog, achei teu blog, achei teu blog...

    Beijos do Nano..

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  9. Desculpada flor!!!!!
    Desde que suma e sempre volte...
    Te adoro!!!
    beijossss
    Cíntia

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